#1 - A desconexão da conexão
Me dei conta que eu era uma bomba armada em vias de explodir. E que a detonação de toda essa energia contida afetaria, além de mim, aqueles que mais amo.
A maternidade estava muito mais pesada do que de costume e eu lembrei das ferramentas para desacelerar, baixar a minha temperatura. Eu precisava de um pouco de silencio, mas era impossível aquela altura.
A energia que me consumia por dentro, passou a irradiar no meu entorno, fazendo minha semana de Dia das Mães se transformar numa GRANDE BOSTA (Em capslock mesmo e de boca cheia – essa é a sua deixa para julgar uma mãe).
Há dias que precisamos chegar ao fundo do poço, para que, na escuridão, consigamos ouvir nossos próprios pensamentos e mais nada.
E no meu poço eu compreendi que o que acreditava ser um “pequeno problema paralelo a isso tudo” poderia estar intrinsecamente ligado ao meu nervosismo, a minha irritação e à beira do abismo que eu namorava.
Aceitei o que eu vinha percebendo e tirei a peneira na frente do meu sol. Achei que veria luz, que traria clareza, mas me cegou. O que coloquei debaixo do tapete se revelou e me envergonhou.
Assumi: as redes sociais, que eu tanto amo, me consomem. Virei massa de manobra. Justo eu que achava ter tanta consciência sobre isso.
Acreditei que eu detinha o controle do feed, filtrando, curtindo e interagindo com aquilo que me interessava, denunciando mentiras e conteúdos inapropriados. No auge da minha ilusão, eu controlava e alimentava o algoritmo a meu favor.
E foi aí que a luz me cegou. O algoritmo me entregava apenas o suficiente para me manter interessada. E bastava uns segundos a mais pausada em um anúncio de roupa de treino e pronto: meu feed se infestava de marcas fitness.
O algoritmo trabalha pra dar lucro.
O Instagram que começou com compartilhamento de fotos hoje é um comércio gigantesco virtual. Ele te prende ali para que você consuma. Do outro lado, prende profissionais que acreditam piamente que precisam “existir” naquele ambiente para que seu trabalho colha frutos.
Mas, será?
Em que prisão nos metemos?
O que vejo e sinto é que o Instagram virou uma enorme concentração de renda para poucos. Bets e jogos do tigrinho pagam fortunas para serem divulgados por celebridades e por influenciadores rasos e fúteis.
De onde vem esse dinheiro todo?
Da esperança de gente humilde, gente batalhadora, que rala, e quer ter mesma sorte de enriquecer do dia pra noite como poucos tiveram.
Quem lucra com tudo isso?
Os donos bilionários de bigtechs, que se aliam a governantes para ditar as regras e rumos de uma sociedade feita para enriquecer poucos, empobrecer muitos e adoecer a maioria. Puro suco de capitalismo selvagem, baby!
A que sistema nos rendemos?
A promessa da plataforma é alavancar suas vendas e te levar pra um lugar melhor.
Estamos num lugar melhor hoje?
Creio que não.
Nossas crianças e adolescentes estão doentes. Crianças que já não são capazes de se concentrar numa leitura ou vídeo ligeiramente mais longo (que os míseros 1m30s), tem tido seu desenvolvimento cerebral comprometido antes mesmo de tê-lo completo.
Adolescentes que se comparam à vidas de falsa ostentação e que perdem o sentido e propósito para o próprio existir.
Nossos idosos estão gastando seu ócio rolando uma barra e se alienando de acordo com o que o algoritmo é capaz de entender sobre seus hábitos. Caindo em golpes e mais golpes, se deprimindo na solidão.
E eu, que cresci sem a internet, me criei no chão da rua e no pátio da escola, nos moldes antigos, de forma raiz, achei que estava imune. Uma enorme ilusão a minha. A nossa.
A rede social pode não ser o cerne dos meus problemas, mas sem dúvida agravou as minhas questões, sugou minhas energias e capturou a minha capacidade de pensar com clareza, enquanto eu rolava uma barra.
Scrolling, scrolling, scrolling para um lugar que não existe, que me entorpecia de realidades falsas e me alienava da minha própria condição.
Acontece que quem manda na minha vida sou eu.
E quando me dei conta disso, fiz o que nunca imaginei que faria: sai de todas as minhas redes sociais. Assim, de um dia pro outro.
Boom.
E foi aí que implodi pra dentro de mim mesma.
Mariana U. Poloni
E hoje mesmo irei me espelhar, já estou fazendo isso. Planejo ficar apenas por aqui e no Whatsapp (profissional obriga). Gostei muito!